Minha experiência com gatos se resume a quase nenhuma. Mas,
tendo mudado para uma nova cidade, onde, pela primeira vez na vida, não tenho
nenhum cachorro por perto, tenho pensado mais na possibilidade dos gatos. A questão é que eu nunca, em tempo algum,
tive um gato. E devo confessar que não tinha uma boa visão deles, até pouco
tempo. Até conhecer três gatos em especial: junior, onça e o terceiro não me lembro o nome, mas ele será o personagem principal dessa história. Sobre os outros, talvez escreva uma outra hora.
Escrevo estando numa pousada que tem dois bonitos gatos. Um
ligeiramente esnobe, de olhos verde limão, de pelo cinza volumoso, que sempre
passa altivo, desconfiado e, na maior parte do tempo, longe. Às vezes passa
um pouco mais próximo, mas nada o suficiente para que possa ser tocado. E eu
também não faço força para isso.
O outro...ah o outro...quando o vi pela primeira vez fiquei
admirada com a beleza dele. Pele de tigre, corpo longo e vigoroso. Esse eu não
definiria como esnobe ou desconfiado, mas selvagem, no puro sentido. Desde que chegamos aqui - 5
dias atrás – ele não se aproximou. Está sempre bem longe e parece não querer
mesmo conversa.
Mas, pela manhã, o surpreendi cheirando o pandeiro que
havíamos deixado na cadeira de descanso da varanda. Ele cheirou minuciosamente
e aí eu fiz aquele “psiiiipsiiipsiiii prolongado (aquele de chamar gatos) para
dizer a ele que era meu, o objeto. Ele me olhou no olho (daquele modo
misterioso dos gatos). Eu continuei no computador. E um tempo depois, ele me
surpreendeu, aproximando-se ,esfregando-se na mesa que eu estava, bem perto de
mim. Eu levei a mão para que ele decidisse encostar em mim e ele veio, lindo
como só ele. E então, ele permitiu que eu passasse a mão como que coçando suas
costas até a cauda e repetiu isso várias vezes até se jogar no chão para que eu
passasse meu pé nele. Nessa hora fiquei com medo dele me arranhar e, talvez, ele
tenha percebido e se afastou. Bicho bonito demais. Valeu a pena, pensei. Mais tarde contei ao casal dono da pousada, e eles me disseram que ele me adotou, já que era um bichinho bem arisco com estranhos. Eu fiquei feliz.
Tenho pensado agora nos gatos, como bichos cujo contato
conosco se dá pelo carinho, mas com a manutenção de sua independência, sendo
sempre fiéis a sua natureza selvagem. A cachorra da pousada me olhou agora e
penso nos cachorros como um reflexo de mim mesma, sempre fiéis e afetuosos. Mas
a liberdade dos gatos me faz querer aprender com eles sobre como ser um gato.
A cachorra deles apareceu no portão de novo (a beleza de um
pastor alemão) e me vi no seu olhar dócil novamente e fiquei pensando.
P.S.: A gravura é do trabalho do artista Theóphile Alexandre Steinlen (1859-1923), que adorava gatos.